“A autarquia tem de colocar ao serviço do SNS os meios disponíveis”

O deputado do Bloco de Esquerda da Assembleia Municipal, e da Assembleia da República, Moisés Ferreira, apela que a autarquia coloque “todos recursos disponíveis ao SNS e à autoridade de saúde”, como diversos equipamentos e recursos humanos. O deputado do BE aborda também as “várias respostas sociais” que o Município possui numa área sensível – os
lares de idosos que contam com “uma população significativa”. Por fim, o Bloco considera ainda que a autarquia precisa de “apresentar medidas ao nível do apoio do SNS” e isso “começa a tardar”.

 

No âmbito do surto epidémico do Covid-19, que análise faz o Bloco de Esquerda da evolução no município de Santa Maria
da Feira?
Há dois aspetos a analisar: a saúde pública e a questão económica e social. Creio que o concelho de Santa Maria da Feira não divergirá muito daquilo que é a realidade nacional. Há o primeiro enfoque na saúde pública e sanitária: o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está a fazer isso, é preciso também que as autarquias possam de alguma forma complementar o papel do SNS e não é substituindo-se, nem é a fazer prestação de cuidados de saúde – porque isso é o que o SNS faz.

 

Que tipo de meios são esses na perspetiva do Bloco?
Neste momento, a autarquia – até porque muito dos seus serviços passaram para teletrabalho e outros foram reduzidos – poderá ajudar os cuidados de saúde primários e até mesmo os cuidados hospitalares com meios, tais como: viaturas, profissionais no apoio aos cuidados de saúde domiciliares e instalações. Há doentes, além do Covid-19, que precisam de continuar a ter cuidados de saúde e é aconselhado que estes sejam prestados no domicílio. Provavelmente vai haver a necessidade de deslocar algumas pessoas das instituições para fazer isolamentos e quarentenas, o que poderá levar à transformação de equipamentos em locais de isolamento e enfermarias, se for necessário. Neste momento, a autarquia tem de colocar ao serviço do SNS os meios disponíveis.

 

E que leitura faz da vertente económica e social?
Por razões óbvias, esta crise epidémica vai gerar uma crise económica com consequências. Será preciso tomar medidas fortes e corajosas, tanto ao nível do Governo, como das autarquias, para que o impacto da redução económica seja o mínimo possível na vida das pessoas e dos trabalhadores. O pior que poderia acontecer ao juntar uma crise de saúde pública e económica, seria a crise social. Seria devastador.
Para tal não acontecer, precisamos de medidas para preservar o rendimento dos trabalhadores.

A nível local, que soluções propõem?
O Bloco propôs a suspensão das rendas na habitação social; a suspensão do pagamento da água e o impedimento do corte da mesma, neste período da epidemia. No que diz respeito às pessoas sem-abrigo e às que vivem em habitações sem o mínimo de condições, a autarquia deveria disponibilizar uma série de quartos em unidades hoteleiras até para cumprirem com a quarentena ou o isolamento. Por último, o distanciamento social não pode parar uma série de atividades: as autarquias
deveriam criar programas de acompanhamento social, ainda que à distância, dado o aumento do isolamento dos idosos. Caso contrário, podemos vir a ter situações de depressões e muitos idosos postos ao abandono.

 

A presença de várias fábricas no território poderá representar um risco elevado de contágio contágio, caso se confirme algum
caso? Até porque grande parte destas unidades fabris continua a laborar…
Sim, há algumas atividades e setores industriais que podem representar um risco de surtos. Temos que estar atentos para isso e a indústria tem que ter planos de contenção e não apenas de “papel”. Neste momento, toda a indústria que labora tem a responsabilidade dos planos de contingência para minimizar os contágios e a possibilidade de um surto. Deve-se cumprir,
assim, as distâncias de segurança, acompanhar a saúde dos trabalhadores e realizar inquéritos epidemiológicos para detetar e despistar, desde logo, o diagnóstico de Covid-19.

 

Face aos números que têm vindo a ser apresentados, que previsão faz da expansão de Covid- 19 no concelho?
Ninguém sabe muito bem, nem mesmo os especialistas ou os epidemiologistas. Santa Maria da Feira tem, especialmente, uma população significativa numa área sensível – os lares. Esta doença é muito mais grave para pessoas mais velhas. São estas populações que tem de ser protegidas e Santa Maria da Feira tem várias respostas sociais deste tipo. É necessário que em todos os lares, sem excepção, haja uma intervenção no sentido de perceber se os utentes estão bem, se têm condições de isolamento e quartos individuais para quarentena. Caso não tenham é necessário encerrar os lares e deslocalizar os focos do
surto para proteger estas pessoas.

 

Por último, como caracteriza o desempenho da Câmara Municipal até agora?
A Câmara Municipal precisa de apresentar medidas ao nível do apoio do SNS e isso começa a tardar.
É importante articular e dispor os recursos disponíveis que anteriormente referi. A autarquia tem que dizer o quê que tem disponível, articular e divulgar os programas de emergência e apoio social para os mais vulneráveis. Creio que a Câmara
ainda não manifestou essa disponibilidade e deveria fazê-lo o mais rapidamente possível.

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