Dois bonecos vestidos a rigor, feitos de trapos, ergueram-se bem altos num mastro, com uma enorme fogueira em baixo. Foi assim mais uma vez em Argoncilhe, no passado dia 13 de Fevereiro. A Queima dos Velhos é uma tradição antiga, disseminada em várias regiões do País. Antes simboliza a destruição daquilo que é velho, de que nos queremos libertar, num processo individual e comunitário a que não será alheia, na cultura ocidental, a dinâmica carnaval-quaresma. Em Argoncilhe, é sobretudo um momento de paródia. Enquanto os “velhos” ardiam na fogueira, foi lido o responso. Uma sátira, de alguma forma disfarçada, algo brejeira e bem-disposta, que relata o acontecimento do ano, do lugar, ou da freguesia e que deixa pistas, entre versos e advinhas, de quem são os “Velhos” caricaturados. Em tempos idos, em que as redes sociais eram as conversas, os ditos e não ditos, quando alguma situação mais caricata se tornava acontecimento do lugar ou da freguesia, tornava-se de imediato em potencial gracejo para a noite da Queima dos Velhos.