Paulo Silva é vice-presidente do CDC Oleiros e o responsável pela secção de andebol adaptado, secção que existe desde 2016 e que tem protocolo com a Cerci Lamas, mas que está preparada para abrir portas a toda a comunidade.
Como é que o andebol surgiu no Oleiros?
O adaptado surge no CDC Oleiros em 2016 com o apoio de duas pessoas: o sr. Joaquim Silva e o Tiago Rocha, que já foi atleta de clube, foi atleta do Futebol Clube do Porto, atleta da nossa seleção. Está a jogar em França, mas sempre que pode acompanha o nosso clube e ainda no ano passado esteve aqui a fazer um treino com o nosso adaptado. Em 2016 foi feito um convite Cerci Lamas para cedência de atletas e a parceria evoluiu a partir daí de uma forma muito rápida. Até porque a Cerci tem um colaborador (André Rocha) com curso de treinador, com competências técnicas para dar o treino e competências para o jogo. Começamos com os treinos e quando demos por ela já estávamos num torneio em Tavira, ao qual continuamos a ir e que decorre na altura da Páscoa. Esta é uma parceria fantástica, a nossa equipa já foi campeã regional por duas ou três vezes, já conseguimos por duas vezes o título de vice-campeões nacionais e vai-se fazendo um bom trabalho.
E como funciona o andebol adaptado no clube?
Esta é uma secção como outras do clube. Temos bolas próprias, temos equipamentos próprios, temos um oficial dos jogos, o nosso treinador… em termos de condições, temos exatamente a mesma logística que tem a equipa sénior. A competição nacional é organizada pela ANDDI (Associação Nacional de Desporto para Desenvolvimento Intelectual) e participamos em diversos torneios.
O protocolo é com a Cerci Lamas?
Atualmente sim, mas queremos alargar o projeto. Temos uma reunião com o vereador Gil Ferreira para entrarmos em contacto com as crianças e jovens com deficiência que frequentam as escolas de Santa Maria da Feira, lançando-lhes o convite para que adiram ao projeto. Estamos prontos para os receber à quarta-feira à tarde para um treino. Estamos com as portas abertas a antigos atletas e utentes da cerci, temos protocolo com a Casa Ozanam e temos atletas da Cerci Lamas, mas queremos abrir os treinos a todas as pessoas que se encaixam nos parâmetros internacionais de deficiência intelectual, que queiram praticar um bocadinho de desporto. A expectativa é que a porta se abra mesmo para a comunidade e que os pais de jovens a frequentarem as escolas de Santa Maria da Feira possam recorrer ao nosso clube.
Há limites de idade? Masculino, feminino?
Nenhum, nenhum. Os nossos treinos têm sempre 15 a 18 atletas e temos jovens dos 14 anos até um senhor que já está ali pertinho dos 68, que pratica connosco, dentro das suas limitações. O objetivo é a prática desportiva, obviamente, mas também o convívio e proporcionar a estes jovens e menos jovens, experiências diferentes. Há treinos a ritmos diferentes, que também são adequados às caraterísticas de cada um. O treinador também tem essas situações em conta, até porque tem essas duas vertentes: o conhecimento técnico, do jogo, mas também a ligação à cerci e ao trabalho com utentes com deficiência, o que torna tudo mais simples para nós.
Não é só a vertente desportiva que é trabalhada?
Há sempre várias vertentes que são trabalhadas. Quando vamos para um torneio como o de Tavira, passamos lá três noites, os atletas convivem com outras equipas, ficamos todos juntos no regimento de engenharia, jantamos todos juntos e há muito convívio, cria-se uma ligação com as outras instituições e isso é muito bom para eles. Quem os acompanha aproveita para trabalhar outras competências. Mesmo em campo, eles têm de aprender a esperar e só entrar em campo quando o treinador manda, perceber o cinco que vai jogar e esperar para entrar… há muitas competências que são trabalhadas incluindo a parte da autonomia, sempre em função do utente, das capacidades dele e do gosto dele também.
A competição não é o mais importante?
Trabalhar com o André Rocha dá-nos outra bagagem. Eu organizo toda a logística que é necessária para uma viagem. Depois temos a parte que organizamos os dois. Ele toma a decisão final na parte técnica, de quem é que vamos levar para o torneio, quem é que está mais apto, se o torneio tem uma vertente mais competitiva ou lúdica, baseando-se no conhecimento que temos do trabalho desenvolvido no dia a dia. A questão competitiva também é importante, porque lhes dá autoestima. Para eles saberem que não vêm só treinar à quarta-feira, que vão à competição. Mas tem de haver um equilíbrio, para que todos possam participar. Por isso é que participamos em vários torneios com objetivos diferentes, mais competitivos ou que apostam mais no desenvolvimento e não obrigam a que haja tanta competição, onde todos vêm felizes com uma medalha no final. Até há torneios que têm diferentes variantes, em que participamos com mais do que uma equipa, com diferentes finalidades, mas no final ficamos todos amigos, porque não vamos ali lutar só pelo primeiro lugar.
Mas tudo isto tem custos. Como é que a secção se sustenta?
O Oleiros conta com o apoio da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, candidatando-se aos projetos desenvolvidos no âmbito do desporto adaptado. Este apoio, não sendo suficiente, vem dar um impulso para que as coisas vão funcionando. O clube não cobra nada aos seus utentes do adaptado, mas a CerciLamas também tem apoio da autarquia e, em parceria, geralmente as coisas funcionam.
Há mais algum aspeto a realçar sobre o andebol adaptado do Oleiros?
Queria deixar o alerta para os pais e para os interessados para que venham conhecer o nosso projeto. Os treinos são à quarta-feira, das 14.30 às 16 horas. Apareçam, vejam o ambiente, o trabalho que se desenvolve, a bancada está aberta, podem assistir aos treinos e no final ver se o filho gostou. No geral, acho que eles saem daqui satisfeitos, não só pelo desgaste físico que têm, mas por que vivem um momento diferente e têm oportunidade de sair do seu espaço de trabalho ou da instituição. O treino não tem custos, é só aparecerem.
Legenda: Foto da equipa do CDC Oleiros que participou no 8º Campeonato Nacional ANDDI realizado em Porto de Mós