Uma história de reinvenção e sucesso
Manuel Alves da Silva celebrou, no dia 5 de Março, passada quarta-feira, o seu 90.º aniversário numa festa que reuniu no restaurante Mirafontes, em Pijeiros, cerca de 20 amigos e ex-funcionários da empresa emblemática Laurel, em homenagem a uma vida marcada por resiliência, empreendedorismo e inovação. O filho do nonagenário, partilhou com emoção a história do homem que, ao longo de décadas, transformou desafios em oportunidades, deixando um legado impressionante em Portugal e além-fronteiras.
A jornada de Manuel da Silva começou longe de casa. Emigrado para Moçambique, regressou a Portugal em 1973, ano em que fundou a Laurel, uma empresa de fogões que viria a tornar-se um marco na indústria nacional. “O meu pai chegou a ser o maior fabricante de fogões de Portugal”, recordou o filho com orgulho.
No entanto, uma crise económica que abalou o país trouxe tempos difíceis: o mercado estagnou e mais de mil metros quadrados de instalações repletas de fogões empilhados, aguardavam à espera de destino.
Porém, o nonagenário não era homem de desistir. Num primeiro momento de reinvenção – ou, como o filho descreveu, na primeira “cambalhota” –, abandonou os fogões e voltou-se para a assistência naval, especializando-se na manutenção de navios de longo curso, os chamados “bacalhoeiros”, em Aveiro. À época, Portugal contava com 37 navios dedicados à pesca de bacalhau e várias empresas no setor. A empresa de Manuel da Silva, destacou-se rapidamente, tornando-se a maior empresa do norte do país neste ramo. “Tinha a melhor equipa de mecânicos”, garantiu o filho, sublinhando a qualidade que elevou o nome do pai.
A entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE), porém, trouxe um novo revés. Uma lei determinava o fim da frota de bacalhau, com as empresas indemnizadas e os navios enviados para a sucata. Foi então que Manuel da Silva deu a sua “segunda cambalhota”. Sem hesitar, reinventou-se mais uma vez, desta feita na área da metalomecânica, instalando-se nas Caldas de São Jorge. O foco passou a ser o saneamento da água – tratamento de água potável e residual –, um setor em que a empresa de Manuel Alves da Silva se tornaria referência em Portugal, nas ilhas e até em alguns países estrangeiros.
“A maior parte das obras de tratamento de água no nosso país foram feitas pelo meu pai”, afirmou o filho, destacando o impacto duradouro do trabalho do nonagenário. Entre os projectos mais emblemáticos estão grandes estações de tratamento, muitos das quais começam a operar, mesmo após a empresa ter encerrado actividades em 2014.
Nos tempos áureos, a empresa chegou a empregar cerca de 200 trabalhadores, 50 dos quais subcontratados, e a gerenciar 27 obras em simultâneo. Contratos pontuais, como com a Galp/Petrogal, em Sines, chegou a mobilizar 900 funcionários, um testemunho da dimensão alcançada pelo negócio.
Aos 90 anos, Manuel Alves da Silva é lembrado não apenas como um empresário visionário, mas como um exemplo de determinação.
A festa de aniversário, rodeada de amigos e antigos colegas, foi mais do que uma celebração de uma longa vida – foi o reconhecimento de um percurso que ajudou a moldar o tecido industrial e social do concelho de Santa Maria da Feira.