O poder da leitura

Aquilo de que se ouve mais falar entre a comunidade docente é que o maior desafio de hoje é fazer com que os alunos saibam ler e interpretar textos. Com o avanço da era digital, as pessoas distanciaram-se do hábito de leitura e isso tem o seu preço.

Enquanto um português lê, em média, entre três e cinco livros por ano, um norueguês lê 15. O que é que isso acarreta? Muitos problemas. A leitura é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento intelectual, emocional e cultural das pessoas. A leitura expande horizontes, estimula a criatividade, a imaginação e a empatia. A ausência desse hábito pode limitar a capacidade de adquirir conhecimento, dificultar a expressão escrita e oral, e diminuir a capacidade de compreensão e análise de informações. Além disso, a leitura também desempenha um papel importante na saúde mental, oferecendo uma forma de escape saudável.

Em resumo, o impacto do desinvestimento de leitura na aprendizagem é devastador. Vale a pena lembrar que, segundo o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), que analisa estudantes entre 15 e 16 anos de 81 países, um em cada quatro jovens de 15 anos tem um fraco desempenho em matemática, leitura e ciências. No nosso país, em leitura, os alunos portugueses obtiveram 477 pontos, uma queda de 15,2 pontos.

Um dos factores que contribui para este resultado, é a falta de incentivo e acesso à leitura desde a infância. Além disso, existem questões socioeconómicas, falta de tempo e excesso de distrações no mundo actual, que podem dificultar a dedicação a este hábito.

O Jornal N não é alheio a esta realidade e atesta que o interesse dos cidadãos pela leitura tem vindo a diminuir substancialmente, sobretudo nas camadas mais jovens.  Lêem o que aparece nas redes sociais, não gostam dos temas nem da linguagem: assim é a relação dos jovens com as notícias. Os recentes acontecimentos, em títulos como o Diário de Notícias ou o Público, objecto de despedimentos e de pesados cortes nas modalidades de edição, são disso um exemplo.

O entendimento das razões pelas quais os jovens acedem a notícias que não se apresentam nos modelos tradicionais, mas aquelas que lhes contam histórias, enredando-os num universo mais “lúdico”, passa por uma infinidade de factores, mas um dos mais evidentes está ligado à chamada “economia da atenção”, ou seja, tem a ver com o sentido que atribuem às notícias como algo que os ajuda a compreender onde estão, quem são e para onde vão. Nesse mar de informações, é preciso oferecer razões aos jovens para que vejam as notícias como ferramentas indispensáveis para que possam fazer escolhas mais conscientes e, sobretudo, escolhas que os tornem protagonistas do seu tempo e da sua história. É preciso ser um observador atento do que se passa e do que nos atravessa como seres humanos. A matéria jornalística precisa ser a mesma matéria da qual são feitas as histórias: de tudo o que é humano – inclusive do que não parece ser – das emoções, do espanto, e também do desconsolo. É nesse equilíbrio que o Jornal N pretende pautar a sua informação e, mais do que nunca, precisamos de si para o conseguir.

Termino, desejando a todos um Santo Natal e um excelente ano de 2023, pleno de boas leituras.

 

Rui Leal, director do Jornal N

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