Via Sacra: Um caminho de fé que subiu ao Castelo

As pedras antigas da cidade tornaram-se, na passada sexta-feira, o cenário vivo de uma das recriações mais intensas da Semana Santa: a Via Sacra, encenada pelo Grupo Gólgota, que há mais de três décadas dá corpo e alma aos últimos passos de Jesus Cristo, do Pretório de Pilatos ao Monte Calvário.

A encenação começou, imponentemente, na escadaria do Palácio da Justiça, com o julgamento e condenação de Jesus. A partir dali o cortejo percorreu as ruas da cidade, dando forma às 14 estações tradicionais da Via Sacra, em momentos de grande simbolismo e emoção partilhada.

Na escadaria da Igreja da Misericórdia, Jesus encontrou-se com sua mãe e com Verónica, que lhe limpou o rosto num gesto de compaixão que atravessou o tempo. Mais à frente, no Mercado Municipal, a multidão assistiu a uma cena que, embora fora da Via Sacra clássica, acentuou o peso da injustiça: o julgamento popular de Jesus, num eco inquietante de condenações feitas pelas vozes da multidão.

A encenação seguiu depois até à escadaria da Igreja Matriz, onde o Cireneu é chamado a ajudar Jesus a carregar a cruz — um momento que marcou o esforço coletivo diante do sofrimento. A subida torna-se mais íngreme e simbólica à medida que o cortejo se aproxima do Castelo de Santa Maria da Feira, culminando num dos quadros mais marcantes: a Crucificação, Morte e Ressurreição de Cristo, encenadas no topo da cidade, como num verdadeiro Calvário.

A Via Sacra é mais do que uma representação teatral. É uma caminhada de fé, onde cada estação é vivida com intensidade, onde cada passo ecoa séculos de tradição e espiritualidade. A cidade inteira transforma-se num espaço sagrado a céu aberto, onde os espectadores não assistem apenas — participam, sentem e refletem.

A recriação convidou ao recolhimento e à contemplação. Em Santa Maria da Feira, a memória da Paixão renasceu em cada pedra, em cada gesto, em cada silêncio.

Estiveram presentes, Amadeu Albergaria, presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Ricardo Marques, presidente do Grupo Gólgota, e D. Roberto Rosmaninho Mariz, bispo auxiliar do Porto, que pela primeira vez assistiu à recriação da Via Sacra, deixando uma mensagem de paz e consolo a todos os fiéis.

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