Por Liliana Ribeiro de Carvalho
A linguagem desempenha um papel crucial em todos os aspetos da nossa vida, do pensamento e da interação humana. E é, sem dúvida, uma poderosíssima “arma”, que todos temos ao nosso dispor. Basta-nos saber usá-la. E é sobre a linguagem utilizada no seio político que hoje escrevo.
Na intervenção de encerramento do debate da generalidade do Orçamento de Estado, os ânimos exaltaram-se, tendo André Ventura acusado o Governo de “ser tão ladrão” quanto o anterior.
Expressões como estas, e piores, são proferidas, recorrentemente, em debates políticos. Já nos vamos habituando.
Outrora, foi notícia nos media, uma deputada que referiu “que os insultos que se trocam no Parlamento são “de se ficar com os ouvidos verdadeiramente afetados e uma ofensa e uma injúria permanente”.
“Já ouvi coisas como vaca e mugidos”, declarou a Deputada socialista, Isabel Moreira, em entrevista ao “Observador”.
Eu própria já pude testemunhar casos lastimáveis, a nível partidário local.
Sem dúvida que a política, tanto quanto o futebol, provoca emoções fortes, levando os seus atores, muitas vezes, a perder o norte, esquecendo onde estão, os cargos que ocupam e o exemplo que devem dar, ultrapassando limites, que para um comum mortal, são inultrapassáveis.
E com que legitimidade exigimos a todos os cidadãos que se respeitem mutuamente, se, na prática, quem deve dar o exemplo, age de forma desadequada em pleno ato político, fazendo exatamente o oposto daquilo que apregoa? Será caso para dizer em casa de ferreiro, espeto de pau.
Mas saiba que há uma explicação para que isto seja possível, no mundo político, e até “permitido”.
É indiscutível que o bom nome, a honra, a dignidade pessoal, a reputação e a consideração das pessoas, são bens protegidos por lei. Muitos são os casos que, diariamente, dão entrada nos nossos Tribunais em que se discute a violação de tais bens tutelados pela justiça.
A propósito lembro o caso mediático que envolveu uma jornalista da CMTV e um advogado que, no final de uma audiência, é interpelado para prestar declarações, tendo referido à jornalista: “desampare-me a loja”, “a senhora devia tomar mais banho, cheira mal!”. Tais expressões foram proferidas num local público, diante de colegas de profissão da jornalista, e transmitidas, em direto, para diferentes canais de TV. Para quem não sabe, o causídico, que já não se encontra entre nós, acabou por ser condenado, pelos crimes de injúria agravada e difamação agravada, e, consequentemente, a pagar à jornalista, uma indemnização de 8.000,00€ por danos morais. O Acórdão proferido no processo 4695/15.2T9PRT.L1-9, no dia 11.12.2019, está disponível para consulta em www.gdsi.pt. Casos destes, repito, são mato nos nossos tribunais.
Leio o artigo na íntegra na edição nº394 do nosso jornal.