Surf & Rescue marcou presença na Praia da Baía, em Espinho

No passado dia 20 de Maio decorreu a 6.ª- Edição do Surf & Rescue na Praia da Baía. A iniciativa pelo terceiro ano consecutivo em Espinho, é organizada pelo Associação de Escolas de Surf de Portugal (AESP) em parceria com o Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) e tem como objectivo através da formação dar ferramentas a surfistas e a nadadores-salvadores para actuarem perante um salvamento aquático. A próxima iniciativa decorre na próxima semana, no dia 30 em Aljezur, na Praia da Arrifana. 

O N falou com o coordenador do projecto Afonso Teixeira (Pai) e o formador João Guedes (Pai) que soma 50 anos de experiência nas águas do mar, como surfista, nadador-salvador, instrutor de mergulho recreativo e mergulhador profissional. Durante a passagem pela Praia da Baía, ainda assistimos a um salvamento “in loco” nas águas espinhenses.

 

 

Afonso Teixeira (Pai)

 

Em que consiste esta formação?

AF A formação é um dia inteiro na praia. A formação inicia às 9h da manhã até às 16h/17h da tarde. Durante a manhã focamos nas técnicas de Suporte Básico de Vida e de Primeiros Socorros. Ensinamos ainda as técnicas de resgate dos vários tipos de vítimas (inconscientes ou em  pânico) com a prancha e sem prancha. No final colocamos tudo em práctica com os formandos dentro de água, a praticar todas as técnicas aprendidas.

Quem pode participar nesta iniciativa? Quantos são este ano em Espinho?

AF Qualquer pessoa que tenha o mínimo de conhecimento de surf e nadadores-salvadores são o público-alvo da nossa formação. Hoje temos cerca de 30 participantes.

Superou as espectativas em relação ao ano passado?

AF Está dentro da nossa média. Decorreram duas acções a Norte, o público mais a Norte – foi para Ofir e o mais a Sul do Norte veio a Espinho.

Na sua opinião qual a importância deste tipo de iniciativas e formações nas praias?

AF É fundamental. Cada vez há mais pessoas a frequentar as praias  fora da Época Balnear. Acabamos de ver uma situação real de uma pessoa que teve de ser ajudada por um dos nossos formandos.  É importante que existam surfistas capacitados em todas as praias durante todo o ano, porque são eles que estão na praia durante todo o ano. As pessoas estarão mais seguras se frequentarem praias com surfistas. O nosso objectivo é ajudar os surfistas a fazer salvamentos de forma cada vez mais adequada.

Qual o balanço das edições a nível Nacional e em Espinho?

AF O balanço é superpositivo. Vamos na 6.ª Edição em Espinho e continuamos a crescer, temos pedidos para ir a vários lugares e pretendemos regressar às ilhas dos Açores e da Madeira. Esta é a 26.ª Edição da Acção de Formação do Surf & Rescue e contamos com mais de 850 participantes desde o primeiro dia. Em Espinho realiza-se pela 3.ª vez consecutiva. É uma praia excelente para estes exercícios porque tem um cenário real em que é fácil praticar e treinar todas as situações. Tem correntes, ondas, tudo aquilo que precisamos para treinar em cenário real, que é o que pretendemos com esta formação.

 

João Guedes (Pai)

 

Está nesta iniciativa desde o início?

JG Estou na iniciativa desde o seu começo. O Afonso Teixeira convidou-me e eu aceitei logo porque acho que o projecto faz todo o sentido. Esta simbiose entre as técnicas que os nadadores-salvadores e os surfistas usam é fundamental para ambos. Este projecto deveria ser abraçado pelo governo português, quer com apoios, quer através do incentivo ao cidadão para a participação neste tipo de iniciativas. Ainda agora estava a transmitir aos nossos formandos. O melhor salvamento é a prevenção. Pela minha experiência vejo logo o que vai acontecer. E antes que aconteça eu já estou lá.  É importante as pessoas serem informadas e educadas no sentido de adquirirem comportamentos cívicos no mar. Tudo passa obviamente pela educação, que não existe em Portugal.

Nesta iniciativa também é possível a cada formando trocar experiências entre si?

JG Eu costumo dizer a todos os formandos, que eu aprendo tanto com eles como eles aprendem comigo. Nem que seja tudo aquilo que fazem de errado. Para nós é sempre algo que se aprende.

Qual é o balanço que faz do evento?

JG Foi um projecto que teve para ficar pelo caminho por falta de apoio, mas superamos as dificuldades. Quando o projecto começou a ganhar credibilidade e com cada vez mais pessoas a quererem participar, para nós é muito gratificante.

Tem alguma história engraçada que nos possa contar?

JG A mais engraçada foi precisamente nesta praia, um salvamento igual ao que aconteceu há pouco. A pessoa acabou por se pôr de pé e tinha a água pela cintura. Nas águas da Baía há aqui um fundão que mais à frente deixa de existir. Foi um individuo que começou a sentir-se aflito no fundão, sem pé e depois foi arrastado pela corrente para a zona de areia e começou a pedir ajuda. Dizia: “salvem-me, salvem-me”. Eu vinha a remar com a prancha, e sabia que ele tinha pé. Cheguei perto dele e perguntei o que se passava. Ele aflito pedia que o ajudasse que “estava a morrer afogado”. Eu disse-lhe para ter calma e colocar-se de pé e ele continuou aos gritos a pedir ajuda, até que fez o que lhe disse e ficou com a água pela cintura.

 

Município de Espinho e a Proteção Civil

O Município de Espinho considera a iniciativa de “elevada relevância no âmbito da estratégia municipal para a segurança balnear”. “Esta ação enquadra-se no compromisso contínuo da autarquia com a prevenção, capacitação e resposta eficaz a situações de risco nas zonas costeiras, assumindo um papel complementar ao dispositivo tradicional de vigilância balnear”, explica o Município de Espinho. Destaca ainda a importância dos surfistas que “muitas vezes atuando de forma anónima e espontânea, têm desempenhado um papel crucial na prevenção de acidentes graves e na minimização de consequências em situações de perigo para banhistas, antecipando-se frequentemente à chegada de meios de socorro convencionais”. Neste sentido também a Proteção Civil Municipal de Espinho encara o evento “Surf & Rescue “como uma evolução natural nas políticas de segurança e proteção costeira, integrando os surfistas como agentes de primeira linha na resposta a emergências balneares”.

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