Do sonho à liberdade – Um manifesto de progresso

De 22 a 25 de Maio, a cidade de Santa Maria da Feira prepara-se para receber mais uma edição do Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de Rua. O evento, que ao longo de 24 anos se consolidou como uma das maiores celebrações da arte e da cultura na cidade, promete este ano um espetáculo vibrante e transformador, centrado no tema do “Progresso”. Com mais de 170 artistas de 17 nacionalidades, o Imaginarius 2025 será um palco de vida e criatividade, desafiando as perceções da sociedade e convidando o público a refletir sobre o progresso em múltiplas dimensões. A edição conta com 120 horas de conteúdo, 43 projetos, 135 apresentações, 9 criações Imaginarius, um universo de 11 estreias absolutas e 25 estreias nacionais.

O Imaginarius deste ano enfoca o conceito do progresso, que se desdobra em várias camadas de análise. Do progresso tecnológico às questões sociais e políticas, o festival explora o impacto da evolução humana na sociedade actual. Como salienta o presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Amadeu Albergaria, “o Imaginarius é um palco de vida que transforma não só as cidades, mas as pessoas, criando uma geração que se liga a este evento desde a infância.”

O progresso, neste contexto, é entendido como um processo contínuo de questionamento e transformação. Este tema não se limita ao universo das artes, mas atravessa questões centrais da actualidade, como as migrações, o papel da mulher e as minorias, bem como os dilemas éticos e morais da evolução humana. O evento será uma provocação ao público, convidando-o a refletir sobre o que significa, verdadeiramente, progredir enquanto sociedade.

A Trajetória do Imaginarius

O Imaginarius não é apenas um festival de teatro de rua. É um movimento cultural que nasceu de uma cidade operária, onde os “operários da cultura” transformaram espaços como o antigo matadouro de Santa Maria da Feira em centros de criação artística, com o objectivo de levar a arte para todos. Este evento, que em 2025 celebra mais de duas décadas de história, é um verdadeiro marco cultural na região, não só pela sua programação, mas também pela sua capacidade de despertar a reflexão e até a controvérsia na cidade.

“O Imaginarius é uma cidade irredutível”, destacou Amadeu Albergaria, referindo-se ao impacto do festival na vida local. “Esta cidade é feita de operários irredutíveis da cultura que têm uma relação forte com as suas comunidades e as suas raízes. O Imaginarius é uma extensão dessa identidade.”

Ao longo dos anos, o festival tem sido palco para várias criações, sendo responsável pela estreia de várias produções internacionais, incluindo grandes nomes da cena artística mundial, como Rui Paixão, um exemplo de artista que encontrou no Imaginarius o ponto de partida para uma carreira de sucesso.

Uma Programação que Abraça a Diversidade

Este ano, o festival trará ao público uma programação com 120 horas de conteúdo, distribuídas ao longo de 4 dias, e com 43 projetos distintos. A programação inclui 9 criações Imaginarius, com um total de 135 apresentações, 11 estreias absolutas e 25 estreias nacionais, sendo um dos maiores eventos de teatro de rua em Portugal.

Gil Ferreira, vereador da Cultura, destacou a importância da “dimensão ética do progresso” que será explorada no festival, fazendo uma análise crítica de como o progresso pode ser medido em termos de valores humanos e sociais. “O progresso é o sonho maior da humanidade em torno de valores fundamentais como o valor da liberdade com vista a uma existência pura. Hoje o Imaginarius é procura, é questionamento, é confronto, mas é sobretudo mobilizador e transformador”, sublinhou.

Além disso, será dada especial atenção ao património gastronómico local, com iniciativas como a colaboração com a rede de cidades criativas da Unesco, que coloca a gastronomia no centro da discussão artística e cultural.

Um dos projetos de destaque é a criação da artista finlandesa Anna Moisala, que fará uma fusão entre gastronomia, circo e natureza, explorando as interconexões entre estas áreas no contexto do progresso e da evolução.

Telma Luís, gestora do projeto Imaginarius, apresentou com entusiasmo a programação deste ano, destacando o crescimento e as novas colaborações internacionais do festival.

“Este ano, o Imaginarius triplicou o número de criações locais e parcerias internacionais”, disse a responsável, destacando, entre os projetos: “Anti-Nódoas”, da companhia portuguesa Mnemos, que revisita a história das lavandarias dos anos 90 e reflete o progresso das mulheres; o “Final Girl”, uma criação e encenação de Rui Paixão- artista feirense que iniciou o seu percurso nos palcos do Imaginarius, seguiram-se os festivais internacionais, catapultando para a consagrada companhia mundial Cirque du Soleil; “Phloem”, da Finlândia, que mistura circo contemporâneo e gastronomia, e “Dekru”, da Ucrânia, um projeto de realidade virtual que reflete sobre as redes sociais. Telma Luís também citou a instalação “Lilliput”, que propõe uma reflexão sobre contos infantis e valores sociais, e “Home/Land”, uma intervenção sobre migrações e o sentido de pertença.

O destaque vai para o espetáculo de grande formato “Le Grand Mire”, da companhia francesa Deus Ex Machina, que explora a vontade humana de conquistar o desconhecido e reflete sobre o progresso da sociedade. Uma performance aérea de cortar a respiração em torno de uma bola gigante de 200 quilos, suspensa a 15 metros de altura.

Imaginarius e a Participação Comunitária

O Imaginarius vai além do mero espetáculo. Como evento de grande impacto cultural, oferece à comunidade a oportunidade de se envolver activamente nas criações artísticas. Projetos como Money for Free e Light Colony convidam o público a participar de maneira voluntária, explorando questões de desenvolvimento económico e social. Além disso, o festival apresenta uma novidade este ano: o “menu do artista”, que desafia os restaurantes locais a criar menus inspirados no tema do progresso.

A cidade de Santa Maria da Feira apresenta-se, assim, como um verdadeiro palco de encontros culturais, onde não apenas os artistas se expressam, mas também os cidadãos, através de diferentes formas de participação, desde a culinária até o circo.

Imaginarius: Um Investimento no Futuro

O Imaginarius é muito mais do que uma simples celebração artística: é um investimento cultural com um orçamento de meio milhão de euros, onde a maior parte dos recursos são dedicados à programação e ao apoio à criação artística. De acordo com os organizadores, este evento é uma plataforma de reflexão e questionamento sobre a sociedade e sobre o que o futuro nos reserva.

O Imaginarius também tem um caráter internacional, estabelecendo parcerias com a rede Circostrada Network e com a Rede de Cidades Criativas da Unesco, o que coloca Santa Maria da Feira no mapa cultural europeu e global. Através destas redes, o festival colabora com mais de 150 parceiros em toda a Europa, promovendo a circulação de ideias e a construção de um futuro mais sustentável nas artes de rua.

O Imaginarius como Reflexão e Transformação

Com uma programação vibrante, que mistura arte, cultura e reflexão social, o Imaginarius 2025 será uma edição imperdível. Este festival é uma celebração do progresso não apenas enquanto evolução técnica, mas também enquanto reflexão sobre os valores que moldam a sociedade.

A cidade de Santa Maria da Feira será, mais uma vez, o palco de um evento que desafia, transforma e conecta comunidades, artistas e cidadãos.

“Imaginarius é, acima de tudo, um sonho coletivo que não é apenas de um momento, mas de gerações”, como afirmou o presidente Amadeu Albergaria, e é com este espírito de continuidade e inovação que o festival segue para mais uma edição cheia de surpresas, reflexão e arte.

Leia o artigo na íntegra na edição nº407 do nosso jornal.